sábado, 27 de fevereiro de 2010

Breve contexto político e cultural do Brasil na década de 1950

No campo político observa-se que o governo estava preocupado com progresso econômico brasileiro, com o processo de modernidade e nacionalidade. No término do governo Dutra, foram realizadas novas eleições presidenciais. O presidente eleito em 1950 foi Getúlio Vargas com 48,7% dos votos. Em seu discurso Vargas dizia que havia voltado ao poder não apenas como líder político, mas como líder popular. Quando assumiu a presidência, retomou as suas principais características, dentre as quais esta o nacionalismo econômico.

Presidente Getúlio Vargas

A visão de progresso provocou algumas ondas migratórias do campo para as cidades, o que resultou num expressivo aumento de trabalhadores urbanos. Fato é que, enquanto o governo conseguiu administrar e manter o controle econômico a situação era estável. Porém, esta estabilidade não se manteve e o governo se deparou com situações em que era necessário se aplicar reformas econômicas.

Ao contrário do governo estado novista, neste período do início dos anos de 1950, Vargas se deparou com diversos setores das camadas populares, principalmente o operariado, organizados autonomamente. Tanto que, durante o seu governo, ocorreram por todo o país inúmeras greves de trabalhadores e movimentos sociais, tendo como motivação básica exigências de aumento salariais e denúncias do alto custo de vida.

Em 1954, a crise política desestabilizou o governo Vargas. Os políticos da UDN e a imprensa de oposição atacavam violentamente a política do governo. Ainda no mesmo ano, Vargas estava no Palácio do Catete, quando redigiu uma Carta Testamento e suicidou-se com um tiro no peito. O impacto provocado pela notícia do suicídio de Vargas e a divulgação da carta-testamento foi intenso e acabou se voltando contra a oposição. Grandes manifestações populares de apoio ao ex-presidente estouraram em várias cidades do país.

Após a morte de Vargas quem assumiu a presidência foi o vice-presidente Café Filho, este facilitou a penetração do capital externo, o que descontentou os nacionalistas e o operariado. Neste pequeno tempo que restava do mandato de Getúlio Vargas, também passaram pela presidência Carlos Luz (presidente da Câmara dos Deputados), após Café Filho ter se ausentado por motivos de doença, e Nereu Ramos (presidente do Senado).

Após um longo período de políticas autoritárias, JK assumiu a presidência em 1956 (após ter vencido as eleições de novembro de 1955), o Brasil iniciou uma nova fase política respirando ares com as idéias de modernidade.

Nota-se que, no desenrolar da década de 1950, o objetivo na área cultural era promover a preservação do folclore e da tradição o mais rápido possível, já que, como o slogan de JK (50 anos em 5 anos) deixava explicito, este foi um período onde a “modernidade” estava em processo acelerado.


Presidente Juscelino Kubitschek

Uma questão interessante apontada por Lúcia Lippi é que a própria construção da imagem do presidente possuiu a preocupação de caracterizá-lo como um moderno tradicional, ou seja, JK foi um médico que “aparece sucessivamente como cosmopolita (fala francês) e como interiorano (gosta de serestas e de música caipira)”.
1

Perante esta imagem estabelecida de Juscelino Kubitschek, percebemos o porquê da atitude tomada pelo presidente em criar uma Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, em 1958. O presidente não poderia deixar que essa preocupação em relação à perda de uma tradição nacional, digas-se de passagem extremamente diversificada, colocasse em risco a sua política otimista.

Conforme Lúcia Lippi, tal campanha teve como objetivo “entre outras atividades, montar um ‘mapa cultural do Brasil’”, além disso, estasCampanhas nacionais de folclore passam a defender traços culturais do mundo rural como elemento positivo da nacionalidade (...) a pureza do popular deveria ser conservada na modernidade”.2

Os Movimentos Folclóricos visavam defender o folclore nacional bem como resguardar a cultura popular. Em relação à Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro a antropóloga Maria Laura Cavalcanti afirma:


A Campanha participa dos debates intelectuais do país em intercâmbio com as ciências sociais que se institucionalizam no mesmo período. Fomenta pesquisas sobre o folclore em diferentes regiões, bem como sua documentação e difusão através da constituição de acervos sonoros, musicológicos e bibliográficos.3


Autores como Artur Ramos e Cecília Meireles colaboraram como defensores da cultura popular e tradição brasileira, além de ocorrer uma busca por aquilo que seria realmente a cultura popular. Veremos o surgimento do Cinema Novo e da Bossa Nova. E dentro destas novidades será pensada uma forma de integrar as camadas populares neste “novo mundo” moderno.

O gosto popular era identificado como ruim, e alguns críticos e intelectuais apontavam como causa disto o fato da arte ser tratada como objeto de consumo, de acordo com Lúcia Lippi acreditava-se que “os interesses comerciais corrompiam a verdadeira arte”.4

Em alguns casos, pode ser notado que se aponta como cultura popular àquilo que está ligado à ruralidade, conforme as palavras de Lippi:


De um lado, ela [cultura popular] aparece no universo urbano das favelas cariocas (...). De outro lado, a cultura popular continua referida ao mundo rural, como na música “Mulher Rendeira”, e ao regional com os versos de João Cabral de Melo Neto em “Morte e Vida Severina” e com Guimarães Rosa em “Grande Sertão: Veredas”. 5


No teatro as peças encenadas no Brasil eram, em sua maioria, francesas. Tinha-se a idéia de que uma as melhores peças eram da Europa. Nos anos de 1950 a concepção teatral mudou e deu-se valor aos assuntos nacionais. Esta idéia começou em 1948, com a criação do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), onde ocorreu a organização das atividades teatrais, isso porque se tinha um programa regulamentado, onde os atores eram contratados e os espetáculos ocorriam em salas próprias]. O TBC foi o percussor de outros teatros que surgiram no período de 1950 como o Teatro de Arena e o Teatro de Oficina.

Neste período foram produzidas peças como Eles não usam Black-Tie (tratava sobre o panorama carioca da época), Chapetuba Futebol Clube (abordava a corrupção política existente nos campeonatos), Marido Magro, Mulher Chata (comédia que abordava os costumes sobre a juventude transviada de Copacabana), Gente como a Gente (nesta peça tentou-se escapar dos estereótipos, e não determinar o homem brasileiro) dentre outras. Eram peças genuinamente brasileiras (autores e assuntos nacionais).

Outro fato é a implementação das artes plásticas e abertura das portas do MAM (Museu de Arte Moderna). Até 1955, o rádio teve o seu auge de popularidade. A partir disto começou a perder terreno para a televisão. O primeiro programa da televisão brasileira – TV na Taba – foi ao ar no dia 18 de setembro de 1950. O apresentador, Homero Silva, mostrou aos telespectadores as diversas possibilidades da nova invenção, exemplificando com pequenas intervenções do cômico Mazzaropi, do comentarista Aurélio Campos falando sobre esporte e dos atores Lima Duarte e Walter Forster. Também participaram deste programas Hebe Camargo, Tônia Carrero e Eva Wilma.

Em São Paulo, houve a tentativa de se implantar a indústria cinematográfica. A fundação da Vera Cruz fez parte de um projeto estético-cultural mais amplo, que previa para São Paulo a vitalização da vida cultural buscando uma hegemonia na vida política e cultural do país. É nesse contexto, em que o povo é visto como cerne da nacionalidade, que predominaram as produções artísticas com um caráter popular e cômico.


Fontes

Bibliografia

MIRANDA, Wander Melo (Org.). Anos de JK: margens da modernidade. São Paulo: Imprensa Oficial do estado; Rio de Janeiro: Casa de Lúcio Costa, 2002.

Site

CAVALCANTI, Maria Laura. Reportagem datada em Março de 2002. Disponível em: www.cnfcp.com.br/ler.asp?IDSecao=2&ID_Template=marrom.


NOTAS:

1 LIPPI, Lúcia. Tempos de JK: a construção do futuro e a preservação do passado. In: MIRANDA, Wander Melo (Org.). Anos de JK: margens da modernidade. São Paulo: Imprensa Oficial do estado; Rio de Janeiro: Casa de Lúcio Costa, 2002. p.36.

2 Ibidem p.42 e 43.

3CAVALCANTI, Maria Laura. Reportagem datada em Março de 2002.

Disponível em:

www.cnfcp.com.br/ler.asp?IDSecao=2&ID_Template=marrom.

Capturada em 22 de Fevereiro de 2008.

4 MIRANDA, op. cit. p.41.

5 Ibidem, p.42.

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