No início dos anos 1920 estudou Ciências Sociais e Artes nos EUA, onde ocorre um convite para que ele se naturalizasse americano, este convite foi negado, pois Freyre diz preferir o Português, “hei de criar um estilo”.
Retorna ao Recife em 1924, mas parte para o exílio após a Revolução de 1930. Lecionou nos EUA e na Europa, retornando em 1932 para o Brasil.
No RJ em 1932 começou a escrever CG&S: Formação da família brasileira sob o regime patriarcal.
Com CG&S, publicado em 1933, Freyre inovou a historiografia. Isso porque, ao invés do registro de guerras e reinados ele passou a estudar o cotidiano da sociedade brasileira por meio da história oral, documentos pessoais, manuscritos dentre outros.
Foi eleito Deputado Federal pela UDN.
Edson Nery da Fonseca
O bibliotecário Edson Fonseca é um admirador do trabalho de Gilberto Freyre, para ele o livro Casa Grande & Senzala sempre será uma referência.
“No prefácio de CG&S os leitores já podem constatar que se encontram diante de uma obra incomum. (...) Incomum pela diversidade de fontes utilizadas, tanto quanto aos gêneros – orais, textuais (manuscritas e impressas), iconográficas e até musicais – como quanto às espécies: depoimentos pessoais e familiais, anúncios, álbuns de fotografias, gravuras, partituras, coleções de periódicos, memórias científicas, artigos específicos e até romances. Incomum pelo pluralismo metodológico: abordagem interdisciplinar, descrição e hermenêutica, observação da realidade ecológica e interpretação pessoal, confronto objetivo de depoimentos e hipóteses audaciosas.” FONSECA, 1983. p.46.
“A diferença de gênero literário não invalida a semelhança, já apontada, aliás, por críticos nacionais e estrangeiros. (...) o grande painel histórico-social vem sendo comparado a uma obra de ficção. Sobre este aspecto, como vários outros, o melhor estudo é o de Bernardo Gersen, que mostra como elementos ficcionais podem contribuir para o sucesso de ensaios históricos e vice-versa, isto é, como a história se introduz em alguns romances e os valoriza.” FONSECA, 1983. p.44.
A análise de Ricardo Benzaquen em “Guerra e Paz”
Logo no primeiro capítulo do livro Guerra e Paz de Benzaquen, o autor destaca uma possível manifestação de racismo por parte de Gilberto Freyre. Segundo ele, Freyre endossa uma posição racista no prefácio da 1ª edição de CG&S, e o cita conforme abaixo:
“vi uma vez, depois de quase três anos maciços longe do Brasil, um bando de marinheiros nacionais, mulatos e cafuzos, descendo não me lembro se do São Paulo ou do Minas pela neve mole do Brooklin. Deram-me a impressão de caricaturas de homens. E veio-me à lembrança a frase de um viajante Inglês ou Americano que acabara de ler sobre o Brasil: A miscigenação resultava naquilo(...).”BENZAQUEN, 1994. p.27.
Este teria sido um raro momento de manifestação racista em uma obra de Freyre, já que na obra gilbertiniana e, especialmente, em CG&S, o livro transmite a sensação de repudio ao racismo.
A obra de Benzaquen é composta por uma série de antagonismos que ao longo do texto se completam. Logo, não há uma separação entre estas contradições.
Os estudos antropológicos de Freyre revelam no negro e no mulato seu justo valor quando diz “aprendi a considerar fundamental a diferença entre raça e cultura”. FREYRE, 1933. p. XII. In: BENZAQUEN, 1994. p.27.
Conforme Benzaquen, Freyre ambicionava tornar-se o autor do primeiro grande trabalho de cunho sociológico que conseguisse romper com o racismo que caracterizava boa parte da produção literária até a década de 1930.
Tendo então nossa sociedade um caráter híbrido, Freyre teria visado recuperar positivamente as contribuições oferecidas pelas diversas culturas negras para o formação da nossa nacionalidade.
O que diz Dante Moreira Leite?
Dante Moreira Leite em sua obra O caráter nacional brasileiro 1, onde o autor faz uma avaliação crítica das obras de Freyre com ênfase em CG&S.
A idéia central desenvolvida por Leite é que a obra CG&S de Gilberto Freyre se equipara à obra Os Sertões de Euclides da Cunha. Segundo Leite, Freyre “baseou as suas afirmações em intuições da realidade brasileira”2, retornando a comparação de Freyre com Euclides, Leite afirma que:
“E aqui aparece uma diferença fundamental entre Euclides da Cunha e Gilberto Freyre: enquanto o primeiro, embora aceitando uma teoria errada, nem por isso deforma os fatos que observa, Freyre realiza uma tarefa quase oposta: dispõe de uma teoria correta, mas ignora os fatos, de maneira que deforma a realidade.” LEITE, p.360.
“Examinadas mais de perto, as teses de Gilberto Freyre revelam um outro aspecto: sua história social – ou sociologia genética, como a denomina o autor – não é apenas anedótica. É também escrita e interpretada do ponto de vista da classe dominante. E nesse sentido sua obra é profundamente reveladora – isto é, reveladora dos preconceitos mais conservadores e mais arraigados na classe dominante brasileira. A obra de Freyre revela uma profunda ternura pelo negro. Mas pelo negro escravo, aquele que ‘conhecia sua posição’ – como o moleque da casa grande, como o saco de pancadas de menino rico, como cozinheira, como ama-de-leite ou mucama da senhora moça”. LEITE, p. 371.
Referências Bibliográficas:
ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. Guerra e Paz: Casa grande & Senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30. Editora 34.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2005.
_____. Sobrados e Mocambos.
FONSECA, Edson Nery da. Um livro completa meio século. Recife: Massangana, 1983.
LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro.
NOTAS:
1 LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro. São Paulo: UNESP. 6ª edição.
2 Ibidem, p. 363
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