quinta-feira, 25 de março de 2010

Gilberto Freyre: elogios e críticas em relação à obra Casa Grade & Senzala.

O que disse Edson Nery, Ricardo Benzaquen e Dante Moreira Leite.


No início dos anos 1920 estudou Ciências Sociais e Artes nos EUA, onde ocorre um convite para que ele se naturalizasse americano, este convite foi negado, pois Freyre diz preferir o Português, “hei de criar um estilo”.

Retorna ao Recife em 1924, mas parte para o exílio após a Revolução de 1930. Lecionou nos EUA e na Europa, retornando em 1932 para o Brasil.

No RJ em 1932 começou a escrever CG&S: Formação da família brasileira sob o regime patriarcal.

Com CG&S, publicado em 1933, Freyre inovou a historiografia. Isso porque, ao invés do registro de guerras e reinados ele passou a estudar o cotidiano da sociedade brasileira por meio da história oral, documentos pessoais, manuscritos dentre outros.

Foi eleito Deputado Federal pela UDN.


Edson Nery da Fonseca

O bibliotecário Edson Fonseca é um admirador do trabalho de Gilberto Freyre, para ele o livro Casa Grande & Senzala sempre será uma referência.


No prefácio de CG&S os leitores já podem constatar que se encontram diante de uma obra incomum. (...) Incomum pela diversidade de fontes utilizadas, tanto quanto aos gêneros – orais, textuais (manuscritas e impressas), iconográficas e até musicais – como quanto às espécies: depoimentos pessoais e familiais, anúncios, álbuns de fotografias, gravuras, partituras, coleções de periódicos, memórias científicas, artigos específicos e até romances. Incomum pelo pluralismo metodológico: abordagem interdisciplinar, descrição e hermenêutica, observação da realidade ecológica e interpretação pessoal, confronto objetivo de depoimentos e hipóteses audaciosas.” FONSECA, 1983. p.46.

A diferença de gênero literário não invalida a semelhança, já apontada, aliás, por críticos nacionais e estrangeiros. (...) o grande painel histórico-social vem sendo comparado a uma obra de ficção. Sobre este aspecto, como vários outros, o melhor estudo é o de Bernardo Gersen, que mostra como elementos ficcionais podem contribuir para o sucesso de ensaios históricos e vice-versa, isto é, como a história se introduz em alguns romances e os valoriza.” FONSECA, 1983. p.44.

A análise de Ricardo Benzaquen em “Guerra e Paz”

Logo no primeiro capítulo do livro Guerra e Paz de Benzaquen, o autor destaca uma possível manifestação de racismo por parte de Gilberto Freyre. Segundo ele, Freyre endossa uma posição racista no prefácio da 1ª edição de CG&S, e o cita conforme abaixo:

vi uma vez, depois de quase três anos maciços longe do Brasil, um bando de marinheiros nacionais, mulatos e cafuzos, descendo não me lembro se do São Paulo ou do Minas pela neve mole do Brooklin. Deram-me a impressão de caricaturas de homens. E veio-me à lembrança a frase de um viajante Inglês ou Americano que acabara de ler sobre o Brasil: A miscigenação resultava naquilo(...).”BENZAQUEN, 1994. p.27.

Este teria sido um raro momento de manifestação racista em uma obra de Freyre, já que na obra gilbertiniana e, especialmente, em CG&S, o livro transmite a sensação de repudio ao racismo.

A obra de Benzaquen é composta por uma série de antagonismos que ao longo do texto se completam. Logo, não há uma separação entre estas contradições.

Os estudos antropológicos de Freyre revelam no negro e no mulato seu justo valor quando diz “aprendi a considerar fundamental a diferença entre raça e cultura”. FREYRE, 1933. p. XII. In: BENZAQUEN, 1994. p.27.

Conforme Benzaquen, Freyre ambicionava tornar-se o autor do primeiro grande trabalho de cunho sociológico que conseguisse romper com o racismo que caracterizava boa parte da produção literária até a década de 1930.

Tendo então nossa sociedade um caráter híbrido, Freyre teria visado recuperar positivamente as contribuições oferecidas pelas diversas culturas negras para o formação da nossa nacionalidade.

O que diz Dante Moreira Leite?

Dante Moreira Leite em sua obra O caráter nacional brasileiro 1, onde o autor faz uma avaliação crítica das obras de Freyre com ênfase em CG&S.

A idéia central desenvolvida por Leite é que a obra CG&S de Gilberto Freyre se equipara à obra Os Sertões de Euclides da Cunha. Segundo Leite, Freyre “baseou as suas afirmações em intuições da realidade brasileira”2, retornando a comparação de Freyre com Euclides, Leite afirma que:

E aqui aparece uma diferença fundamental entre Euclides da Cunha e Gilberto Freyre: enquanto o primeiro, embora aceitando uma teoria errada, nem por isso deforma os fatos que observa, Freyre realiza uma tarefa quase oposta: dispõe de uma teoria correta, mas ignora os fatos, de maneira que deforma a realidade.” LEITE, p.360.

Examinadas mais de perto, as teses de Gilberto Freyre revelam um outro aspecto: sua história social – ou sociologia genética, como a denomina o autor – não é apenas anedótica. É também escrita e interpretada do ponto de vista da classe dominante. E nesse sentido sua obra é profundamente reveladora – isto é, reveladora dos preconceitos mais conservadores e mais arraigados na classe dominante brasileira. A obra de Freyre revela uma profunda ternura pelo negro. Mas pelo negro escravo, aquele que ‘conhecia sua posição’ – como o moleque da casa grande, como o saco de pancadas de menino rico, como cozinheira, como ama-de-leite ou mucama da senhora moça”. LEITE, p. 371.


Referências Bibliográficas:

ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. Guerra e Paz: Casa grande & Senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30. Editora 34.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2005.

_____. Sobrados e Mocambos.

FONSECA, Edson Nery da. Um livro completa meio século. Recife: Massangana, 1983.

LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro.


NOTAS:

1 LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro. São Paulo: UNESP. 6ª edição.

2 Ibidem, p. 363


quinta-feira, 11 de março de 2010

A corrida Imperialista Séc. XIX

No final do século XIX houve uma grande corrida imperialista das potências e dos paises emergentes com o intuito de conquistar novos mercados de influência na África, na Ásia e na América. Principalmente pelas nações recém surgidas, como Alemanha e Itália.

Em geral o imperialismo somou a força militar com as questões ideológicas. Um exemplo disto foram as invasões que ocorreram na África, o discurso se baseava na idéia de que esta não era considerada um território independente, isso porque não possuía um estado organizado, não possuía um rei, não tinha legislação, entre outras características. Mas na realidade o que atraiu os olhares para a África foi a sua riqueza mineral.

O imperialismo combinou o capital industrial com o financeiro, dando origem aos grandes monopólios, sendo a burguesia e não o Estado seu principal agente e beneficiário.

A França presente na África desde 1830 dominava Argélia, a Tunísia, o Marrocos, o Sudão (África Ocidental), a Ilha de Madagascar e a Somália francesa.

A Inglaterra, liderando o imperialismo realizou o domínio vertical do continente do mar mediterrâneo.

A Bélgica dominou o Congo Belga (Atual Zaire) através da ação do rei Leopoldo II, fato que motivou praticamente a corrida imperialista, gerando a partilha definida na Conferência de Berlim.

Enquanto isso, a Alemanha e a Itália se atrasaram na corrida imperialista por conta da luta pela unificação. A Alemanha conquistou o Camarão, o Togo, o sudeste e o oriente da África. Já a Itália colonizou a região do sudeste da Somália e Líbia, mas não conseguiu dominar a Abissínia (Etiópia).

Como consequência deste atraso a Alemanha e Itália estavam insatisfeitas por possuírem poucas colônias que haviam adquirido. Para piorar esta insatisfação depois de uma conferência internacional, em 1906, foi decidido que o território marroquino seria cedido à França e uma pequena faixa no sudoeste da África à Alemanha. Descontente com a decisão, a Alemanha promoveu conflitos em 1911 e acabaou recebendo da França parte do território do Congo. E como se sabe esta competitividade já tinha estourado com a disputa Franco Prussiana, girando, principalmente, em torno da questão da Alsácia-Lorena, estes territórios franceses foram anexados à Alemanha em 1871.

Esses ânimos seguiram-se e influenciaram a I Guerra Mundial.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Memória e História - A problemática dos Lugares

ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA

Uma Interpretação a partir dos Conceitos de Pierre Nora


De acordo com os estudos de Pierre Nora, sobre a relação da memória com a História, ele apresenta o perfil de uma memória em crise. Sendo que Pierre aponta tal crise na memória interior, esta se refere na memória íntima. Apontemos três memórias que são tratadas no texto, a memória como arquivo, a memória como dever e a memória distância.

A primeira se refere à necessidade de materializar a memória interior, que passa a ver nos arquivos e museus suportes para fazer desta uma memória exterior. Tudo deveria ser registrado desde o vestígio mais simples até o depoimento oral. A partir do momento em que se arquiva compulsoriamente tudo, o todo pode perder a sua razão de ser. Mesmo porque é inviável se arquivar tudo, isto não só por razões financeiras mas também particulares, nem toda a memória quer ser recordada, e como materializar este ponto? Lacunas sempre existirão, por mais que os historiadores se esforcem pra trazer isto à realidade registrada. Portanto, é necessário saber o que arquivar, ou seja, o que de fato irá colaborar no crescimento de uma futura memória (no que a memória exterior auxiliará para a construção de uma memória interior).

Segundo o autor, a crise da memória interior se deu a partir do momento em que a memória tradicional foi sumindo, desta forma sentiu-se uma necessidade de se arquivar todos os vestígios, o que é apontado como Memória Dever. Este foi um momento em que as pessoas guardavam tudo sem nem saber de que tipos de memória são indicadores. Em decorrência dessas praticas os grupos que não possuíam a sua memória passaram a ser como historiadores de si mesmos, o que subtraiu o valor dos historiadores profissionais. Afinal para que haver historiadores se cada um poderia ser arquivista de sua própria memória? Para esta questão temos que apontar a metodologia dos historiadores, que mantém um compromisso em sua analise. Críticos ou não, cada um segue a sua escola com métodos de pesquisa e prioridades.

A última memória que é apontada por Nora é a Memória Distância, mas para entendê-la é válido ressaltar que para a história-memória a história seguia uma reta, na qual se conhecia o passado para compreender o presente e desta forma se projetar o futuro. Portanto, era necessário conhecer o passado para que fizesse do presente um passado reconstruído. Com a nova tendência de formar uma história descontinua, o individuo não conhece o passado e a sua incerteza torna tudo em vestígio, tudo é um indicio suspeito. E sobre estas incertezas é que os historiadores devem se posicionar para apontar um rumo para um auto – conhecimento e assim organizar de forma adequada as memórias exteriores.