sexta-feira, 2 de julho de 2010

D.I.V.U.L.G.A.Ç.Ã.O ! !

IV ENCONTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
INCLUSIVA


REFLETINDO SOBRE AS DIFERENÇAS:
CONSTRUINDO UMA SOCIEDADE INCLUSIVA.

Dias:

09/07/2010(sexta-feira) das 18h30 às 22h30
10/07/2010 (sábado) das 8h às 17h30

Local:

FAPA - Faculdade Porto-Alegrense
Av: Manoel Elias, 2001 Bairro: Morro
Santana

INSCRIÇÕES
de 23/06 a 05/07/2010
Site: www.lasalle.edu.br/santoantonio
Informações: 3224-0683 e 9999-1103
e-mail: vione@cpovo.net

A Inclusão para Alunos Surdos

....Desde os primórdios, a história dos surdos é repleta de idéias e conceitos equivocados, decorrentes da falta de conhecimento sobre a surdez. Muitos erros foram cometidos na educação de surdos até chegarmos ao modelo de ensino atual que, por sua vez, ainda necessita ser aprimorado. Contudo, um novo capítulo desta história vem preocupando os educadores sejam eles da rede de ensino regular onde são atendidas crianças sem necessidades especificas ou professores de escolas especiais. Trata-se da nova lei que garante o direito a inclusão escolar para todos.
....Existe uma lei, existe um tempo para começar a executá-la e, teoricamente, para se preparar profissionalmente e estruturalmente. Vejamos o que está escrito nos termos do Plano Nacional de Educação sobre a educação especial, logo sobre a inclusão:


8. Educação Especial. 8.1 Diagnóstico
A Constituição Federal estabelece o direito de as pessoas com necessidades especiais receberem educação preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208, III). A diretriz atual é a da plena integração dessas pessoas em todas as áreas da sociedade. Trata-se, portanto, de duas questões - o direito à educação, comum a todas as pessoas, e o direito de receber essa educação sempre que possível junto com as demais pessoas nas escolas "regulares". [1]


....A dúvida crucial é se isso será bom para os alunos incluídos? Detenho-me somente ao caso de alunos surdos, que possuem uma estrutura psicossocial e cultural diferente dos ouvintes. Creio que o maior problema não seja aceitar as diferenças e conviver com elas. Estamos num momento histórico que está sendo chamado de pós-modernidade e acredito que tal período está intimamente relacionado à busca pelo respeito das diferenças.
....Após a conquista de liberdade tão desejada no final da modernidade, atualmente, diversos grupos sociais estão lutando para que sua causa garanta direitos básicos sociais e políticos. A maior preocupação no caso da inclusão escolar de surdos é como ocorrerá este processo e como devemos lidar com as diferenças dentro da formação de uma didática curricular?
....Dois vídeos serão utilizados como base para a discussão apresentada neste texto. O primeiro é intitulado como “A surdez e o desafio da inclusão escolar” e mostra um pouco sobre o trabalho que está sendo desenvolvido numa escola de Taguatinga no Distrito Federal (vídeo 1[2]). O segundo está dividido em duas partes e trata-se de uma entrevista feita com a Prof.ª Celeste Azulay Kelman da Universidade de Brasília, no qual a mesma defende a inclusão escolar e relata como esta deve ser feita (vídeo 2[3]).
....No vídeo 1 podemos visualizar uma infra-estrutura escolar simples, como a enorme parte das escolas públicas do nosso país. O que pode se entender é que a escola possuí intérpretes. Apesar de que a professora que faz o relato principal compartilha com quem a assisti a dificuldade que se tem em contratar estes profissionais, dando como justificativa o fato de haverem poucas pessoas formadas para esta atividade. Portanto, não fica claro se em todas as aulas com alunos surdos existe uma intérprete. Caso a resposta seja positiva, também não foi detalhado se foi necessário algum tipo de alteração nas turmas e horários das disciplinas.
....Ainda sobre esta escola, outro ponto importante a ser salientado é o que diz respeito à estratégia de envolvimento entre alunos surdos e ouvintes. Conforme o vídeo são promovidas ações extracurriculares diferenciadas para a ocorrência desta envoltura. Inclusive no que diz respeito à participação familiar na vida destes alunos surdos. Porém, não foi dito como e que tipo de ações especificamente são produzidas.
....No vídeo 2 é abordado diversas questões sobre a inclusão. Conforme a professora Celeste A. Kelman a “inclusão deve iniciar o mais cedo possível. Começar tão logo seja feito o diagnóstico.” O que Kelman defende é que quanto mais cedo se iniciar uma estimulação a criança surda a expondo a um convívio com a língua de sinais e a língua falada em seu país (este diálogo se refere ao português e a LIBRAS) melhor será o seu relacionamento social.
....Kelman também lembra a importância de se adquirir uma língua materna, isso porque é através da língua que a criança se expressa e interpreta o mundo. Ao mesmo tempo, a criança surda precisa ter o português como segunda língua, pelo menos carece compreender a modalidade escrita, para que consiga se comunicar e entender o mundo de “sons” ao seu redor. A pesquisadora Ronice Quadros aponta a importância da linguagem
[4] na formação do ser humano:


A linguagem é um dos principais meios pelos quais o homem adquire conhecimento de mundo, fator que tem participação crucial na organização da própria linguagem. (...) a ausência total ou o uso de uma linguagem pobremente percebida pode ter sérias conseqüências negativas para o desenvolvimento cognitivo, uma vez que seria por meio da linguagem que a criança aprimoraria habilidades como abstração, memorização, que são críticas para o seu desenvolvimento pessoal, bem como para processar e reelaborar as informações do mundo, que lhe facilitariam a compreensão lingüística real. [5]


....De fato, o português é uma ferramenta significativa na comunicação com os ouvintes já que a popularização da LIBRAS está longe de ser uma realidade. Em pleno século XXI ainda ocorrem, principalmente, em cidades do interior do Brasil, situações em que as crianças surdas são confundidas como deficientes mentais ou como tímidas. Existe uma escassez de conhecimento e divulgação de informações sobre o que é surdez. Parece tolo afirmar que até hoje há necessidade de explicarmos a diferença de surdez e de mudez. Entretanto, a noção de surdo-mudo ainda parece ser uma constante.
....Compartilho uma experiência recente que tive, estava andando por uma grande Avenida de Porto Alegre e treinando LIBRAS com uma amiga também ouvinte e diversas pessoas nos olhavam com estranheza. Algumas delas até paravam para nos encarar. Imaginávamos o que será que passava pela mente daqueles olhos tão curiosos? Nós achamos à circunstância engraçada, mas provavelmente nos sentiríamos diferente se fossemos realmente surdas.
Em relação a tanto desconhecimento sobre a surdez acredito que a inclusão seria uma forma de desmistificação. Proporcionar para ambos os alunos este convívio é algo positivo. Neste ponto entramos na questão do bilinguismo. ....Como já se sabe, na maioria das escolas para surdos a modalidade metodológica utilizada é o bilinguismo, definido por Kelman como sendo “a capacidade de aprender duas línguas e utilizá-las em momentos educacionais distintos”, mas apresento também a definição da Prof.ª Me. Dóris Freire Costa por entender que esta seja mais completa e especificada, para Dóris:


No bilingüismo, a primeira língua (L1) dos surdos é a Língua de Sinais. A língua falada ou escrita a ser adquirida (o Português, por exemplo) é tida como 2a língua (L2). A Língua de Sinais é, ainda, considerada a língua natural dos surdos. Língua natural é aquela que os indivíduos adquirem na interação com outros, sem necessitar de muito esforço e de um trabalho sistematizado. Os surdos adquirem assim a Língua de Sinais (como os ouvintes adquirem o português oral); o mesmo não acontece quando se tenta oralizá-los. [6]


....Ronice Quadros afirma que o “bilinguismo de língua de sinais e oral é a única forma de dotar o surdo de instrumentos que lhe permitam interagir cedo com seus pais, desenvolver habilidades cognitivas, adquirir conhecimento de mundo (...).” [7] Por este motivo o bilinguismo não pode ser destituído como metodologia na educação dos surdos seja ela onde for. A importância deste já foi reconhecida e valorizada. Sobre o currículo Kelman lembra a necessidade de “adequar à acessibilidade ao currículo”, e expressa que a problemática atual é como fazer isto.
....Outra questão é que não basta somente o surdo aprender o português é fundamental que a sociedade também saiba LIBRAS. Como já foi dito, os surdos passam por experiências diferentes da cultura ouvinte. Suas características específicas são formadoras de suas identidades surdas, e devemos sempre colocar este termo no plural por conta dos diferentes indivíduos que a compõem.
....Nos dois vídeos surgiu num dado momento dos depoimentos o alerta para a necessidade dos professores buscarem se interar na comunidade surda e, principalmente, aprenderem a língua de sinais. Tais aspectos reforçam a afirmação inicial de uma cultura surda firme e diferente do mundo ouvinte. Kelman acrescenta que os professores devem buscar, além de informações sobre a comunidade surda, cursos para se aperfeiçoarem. De acordo com Nídia Regina L. de Sá:


Entendo que os estudos sobre a surdez podem ajudar os que ouvem a compreender mais a respeito de como se dá a construção de suas próprias subjetividades e quais as estruturas de poder culturalmente envolvidas no entorno da questão. [8]


....Segundo Kelman, outros fatores indispensáveis na escola inclusiva é que todos que trabalhem na escola saibam a língua de sinais, desde o diretor até o merendeiro, que existam educadores surdos e que na sala de aula duas professoras trabalhem em regime de parceria. Kelman explica que, diferente da monodocência, o “regime de co-docência são duas professoras na sala de aula, uma que é a professora regente e a outra que é a professora especializada em língua de sinais que entenda da educação de surdos”. Se posto em prática estas pequenas regras, a realidade inclusiva seria pouco contestável.
....Enquanto o primeiro vídeo descrito aqui mostra a inclusão em exercício o segundo traz a visão teórica dos procedimentos. Penso que a inclusão seria uma evolução educacional e social. O surdo não pode continuar sendo mantido escondido, fora dessa sociedade sonora da qual faz parte. É necessário o envolvimento entre ouvintes e surdos. Mas temo pela forma apressada que este processo deveria ser construído.
....Fato é que anos de luta dos surdos e apoiadores ouvintes conhecedores da causa está prestes a serem perdidos por certa “pressa política”. Nenhum ouvinte coordenador ou secretario da educação procuraram ouvir a comunidade surda sobre este tema que está intimamente relacionado com a vida destas pessoas. Não posso deixar de ressaltar as palavras de Nídia de Sá, a autora é mãe de uma menina surda e possuí uma consciência que vem ao encontro do que defendo, para ela “os surdos sofrem as consequências reais das práticas discursivas daqueles que detêm o poder decisório”. [9]
....Até onde a teoria consegue ser efetivada seria uma boa questão para prosseguir com esta discussão. Dentro do que foi explanado aqui, se o governo brasileiro se organizasse para fazer do discurso da Prof.ª Celeste A. Kelman uma ação, estaria convicta do meu apoio à inclusão. Mas a atual realidade da educação pública brasileira é de um sucateamento assustador e de alunos cada vez menos despreocupados com a alienação e com o próximo. Definitivamente, o que menos se está pensando é nas consequências para os alunos com necessidades especificas especiais. O que quero dizer é que discordo completamente desta inclusão prematura e mal planejada.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
QUADROS, Ronice M. Estudos Surdos I. Petrópolis/Rio de Janeiro: Arara Azul, 2006.
SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: Ed. da Univ. do Amazonas, 2002.

SITES
COSTA, Dóris Anita Freire. Entrevista dada ao site Psicopedagogia On-Line - Educação e Saúde. Disponível em:
www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=84

Presidência da República. Plano Nacional de Educação. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm

VÍDEOS
Disponíveis nos seguintes endereços eletrônicos:
Vídeo 1: http://www.youtube.com/watch?v=ZUu3cKpcEsA
Vídeo 2: www.youtube.com/watch?v=OldqQpst4Zg
www.youtube.com/watch?v=PdrQ6QnWvjU&feature=related

NOTAS:

[1] Plano Nacional de Educação.
Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm
Captados em 25 de junho de 2010.
[2] Vídeo disponível no seguinte endereço eletrônico: www.youtube.com/watch?v=ZUu3cKpcEsA. Captado em 21 de junho de 2010.
[3] Vídeos disponíveis nos seguintes endereços eletrônicos: www.youtube.com/watch?v=OldqQpst4Zg e
www.youtube.com/watch?v=PdrQ6QnWvjU&feature=related. Captados em 21 de junho de 2010.
[4] Importante citar que se entende por linguagem como sendo a capacidade que o ser humano possui para se comunicar e expressar sentimentos. Existem diversas formas de linguagem, seja ela corporal, ou musical entre outras. Para Dóris Anita Freire Costa (Mestre em Educação/UFMG) linguagem é o que “possibilita nossos modos específicos de pensamento, conhecimento e interação com os semelhantes. É a capacidade específica à espécie humana de se comunicar por meio de um sistema de signos (ou língua). A língua é, então, entendida como forma de realização da linguagem; como sistema lingüístico necessário ao exercício da linguagem na interlocução ou como instrumento do qual a linguagem se utiliza na comunicação.” Disponível no site Psicopedagogia On-Line - Educação e Saúde: www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=84
Captados em 28 de junho de 2010.
[5] QUADROS, Ronice M. Estudos Surdos I. Petrópolis/Rio de Janeiro: Arara Azul, 2006. p.218 e 219.
[6] COSTA, Dóris Anita Freire. Entrevista dada ao site Psicopedagogia On-Line - Educação e Saúde: Disponível em: www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=84
Captados em 28 de junho de 2010.
[7] QUADROS, op. cit, p.220.
[8] SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: Ed. da Univ. do Amazonas, 2002.p.15.
[9] Ibid, p.13.